2ª série - ensino Médio - Romance “O cortiço” - com gabarito.
Por Geraldo Genetto Pereira
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Bertoleza, Rita Baiana, Paula,.
É importante tratarmos sobre como as pessoas negras eram representadas no romance, que foi o primeiro publicado no Brasil após a abolição da escravatura. Mesmo libertos da escravidão, os negros foram marginalizados e tinham grande dificuldade de colocação e ascensão social, problema que perpetua até hoje e é considerado uma dívida histórica, a qual a nação precisa reparar.
Outra forma de representação dos negros no livro é por meio da capoeira. Como afirma Galvão (2015): A representação das capoeiras no romance “O cortiço” traz a beleza de um dos maiores símbolos da resistência negra do final do século XIX e início do XX. Apesar de todo o preconceito em torno do tema na época, conseguimos extrair muito do que foram os capoeiras daquele período.
(GALVÃO, 2015, p. 130)
ATIVIDADES
Questão 1. (UFV-MG) Leia o texto abaixo, retirado de “O Cortiço”, e faça o que se pede:
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. […]. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 34-35.
Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado:
a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colmeia humana.
b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.
c) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de “O Cortiço” o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.
d) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.
e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.
Extra:
Para o aristotelismo, o mundo metafísico, caracteriza-se pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser.
Para o kantismo, o mundo metafísico diz respeito a toda especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica, Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico.
O romance metafísico é aquele em que se expõe a filosofia através da literatura. É apreender o mundo como um objeto e em seguida transformá-lo em texto, em uma trama na qual a ambiguidade é escancarada.
No trecho, o narrador descreve o meio (cortiço) e os personagens como um todo. Como se fossem intrínsecos, ou seja, tanto o cortiço faz parte dos personagens, quanto os personagens pertencem ao cortiço. Por isso, a afirmação (A) é verdadeira. O autor descreve minuciosamente algumas ações dos moradores do cortiço, mostrando, através de figuras de linguagem, como aquelas ações básicas do dia a dia são responsáveis por expor como é a vida desses personagens, e despertando no leitor sensações olfativas e auditivas. Dessa forma, comprovamos as afirmações contidas nas letras (B), (C) e (E). Em momento algum, no trecho, os personagens são tratados como particulares, ou tem suas essências exploradas. Pelo contrário, o cortiço é tratado como um todo. Por isso, a afirmação contida na opção (D) é falsa.
Questão 2. Em um determinado momento da história, o cortiço pega fogo e se transforma em uma confusão generalizada. Leia os dois fragmentos abaixo e responda o que se pede:
FRAGMENTO 1:
“Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero.”
FRAGMENTO 2:
“E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.”
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2009.
Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm em comum:
a) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho.
b) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no segundo trecho.
c) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.
d) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho.
e) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho.
Questão 3. (FUVEST, 2011)
— Não entra a polícia! Não deixe entrar! Aguenta! Aguenta!
— Não entra! Não entra! Repercutiu a multidão em coro.
E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo. ~
— Aguenta! Aguenta!
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2009.
O fragmento acima mostra a resistência dos moradores do cortiço à entrada de policiais no local. O romance de Aluísio Azevedo
a) representa as transformações urbanas do Rio de Janeiro no período posterior à abolição da escravidãoe o difícil convívio entre ex-escravizados, imigrantes e poder público.
b) defende a monarquia recém-derrubada e demonstra a dificuldade da República brasileira de manter a tranquilidade e a harmonia social após as lutas pela consolidação do novo regime.
c) denuncia a falta de policiamento na então capital brasileira e atribui os problemas sociais existentes ao desprezo da elite paulista cafeicultora em relação ao Rio de Janeiro.
d) valoriza as lutas sociais que se travavam nos morros e na periferia da então capital federal e as considera um exemplo para os demais setores explorados da população brasileira.
e) apresenta a imigração como a principal origem dos males sociais por que o país passava, pois os novos empregados assalariados tiraram o trabalho dos escravos e os marginalizaram.
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