Em tempos muito, muito longínquos, não existiam mulheres no mundo, apenas homens, que viviam sem envelhecer, sem sofrimento, sem cansaço. Quando chegava a hora de morrerem, faziam-no em paz, como se simplesmente adormecessem.
Mas um dia,
Prometeu (cujo nome significa ‘o que pensa antecipadamente’, isto é,
Previdente) roubou o fogo a que só os deuses tinham acesso e deu-o aos homens,
para que também eles pudessem usufruir desse bem, na defesa contra os animais
ferozes, na confecção dos alimentos, na garantia de aquecimento nas noites
frias.
Ora, o rei dos
deuses não podia deixar passar em branco a afronta de Prometeu e concebeu um
castigo terrível para a humanidade.
Mandou então
que, com a ajuda de Atena, Hefesto, o deus ferreiro, criasse a primeira mulher,
Pandora, que significa (‘todos os dons’), e cada um dos deuses dotou-a com uma
das suas características: Afrodite deu-lhe beleza e poder da sedução; Atena
fê-la arguta e concedeu-lhe a habilidade dos lavores femininos; mas Hermes
deu-lhe a capacidade de mentir e de enganar os outros.
Zeus ofereceu-a
então de presente a Epimeteu, que era irmão de Prometeu. O seu nome significava
exatamente o contrário do do irmão, pois Epimeteu quer dizer ‘o que pensa
depois’, isto é, Irrefletido. E, de facto, sem pensar duas vezes e contrariando
a advertência do irmão, que lhe dissera que nunca aceitasse nenhum presente
vindo de Zeus, ele deixou-se seduzir pela bela Pandora e casou-se com ela.
Pandora trazia
consigo um presente dado pelo pai dos deuses: uma jarra (a’ caixa de Pandora’),
bem fechada, que estava proibida de abrir. Mas, roída pela curiosidade, um dia
decidiu levantar só um bocadinho da tampa, para ver o que lá se escondia. De
imediato dela se escaparam todos os males que até aí os homens não conheciam: a
doença, a guerra, a velhice, a mentira, os roubos, o ódio, o ciúme… Assustada
com o que fizera, Pandora fechou a jarra tão depressa quanto pôde,
colocando-lhe de novo a tampa. Mas era demasiado tarde: todos os males haviam
invadido o mundo para castigar os homens. Lá muito no fundo da jarra, restara
apenas uma pequena e tímida coisa, que ocupava muito pouco espaço, a esperança.
Por isso se diz que ‘a esperança é a última a morrer’. De facto, com todos os
males soltos no mundo, lutando e quantas vezes vencendo os bens de que os
homens gozavam, só a esperança, bem guardada no mais fundo dos nossos corações,
nos dá ânimo para nunca desistirmos de expulsar as coisas más das nossas vidas.
Por Geraldo Genetto Pereira
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.
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